Fazendo a mãe Dani estar presente
- Dilnei Dalpian
- 3 de mar. de 2024
- 4 min de leitura

A Alícia e a Dani, sua mãe, não passaram muito tempo juntas, aproximadamente 4 meses. É um tempo curto. No qual a Dani não pôde ver a Alícia começando a comer, dar seus primeiros passos, primeiras palavras, isso tudo ficou para eu ver, para me emocionar... quando a Dani partiu, Alícia era muito pequena e provavelmente não tem memórias de sua mãe.
Os bebês não desenvolveram a memória a longo prazo, por isso temos que falar várias, milhares de vezes para eles entenderem. Quando se trata de falar sobre a mãe dela, não é diferente, tenho que falar, relembrar, perguntar, e ir tentando criar memórias na Alícia, através das minhas memórias. Por alguns motivos quando ela estava perto de completar 1 ano, comecei a falar da sua mãe, que ela está morta, está no céu cuidando de nós...
Fui criando formas de falar sobre o assunto, hoje é algo “normal” entre eu&Alícia, falarmos sobre a Dani, ela pede sobre mãezinha e eu procuro responder da melhor forma possível. Acredito que ir criando um ambiente leve sobre este assunto, me ajuda a ir passando as lembranças.
Alguns meses após o acidente é que fui começar a pensar nesta questão, como faria? Assim, fui juntando todas as informações que possuía sobre a Dani, fotos, algumas das quais mandei imprimir para ter retratos que ela possa e tocar, áudios (hoje a tecnologia nos permite) para que ela possa conhecer a voz da sua mãe. Comecei a falar cedo porque ela vai para a escolinha, lá tem outras crianças cujas mães as vão buscar e com ela apenas o papai, a Alícia é bem espertinha e logo iria perceber essa diferença, e acredito que ir falando fez ela ir entendo o motivo de somente o papai ir buscar ela, assim tentando criar menos traumas.
Guardar essas informações já está sendo útil, muitas vezes ela passa onde tem uma foto impressa e fica olhando para ela, brincando com ela e conforme a Alícia está crescendo vou dando mais do que possuo guardado. Algumas manhãs ela acorda e pede para ver as fotos da mamãe, então eu pego e a deixo olhando, ou quando falei que o nome da mãezinha era Daniela, foi uma alegria tão grande, aquele sorriso no rosto, os olhos brilharam, ou até mesmo escutar a voz da Dani, são momentos que vou percebendo que ela está pronta para tal informação e claro deixo ela a vontade, se quiser ficar uma hora vendo/escutando deixo, ou se escutou e não se interessou não fico forçando, apenas deixo perto caso ela queira ou guardo.
Até ela ter perto de 2 anos e meio eu tinha que ir criando/percebendo o momento para falar da mãe Dani, após ela começou a fazer questionamentos, falar da mãezinha em brincadeiras, quando está chateada, triste, mas umas das frases sempre é “ela está no céu cuidando de mim e ela é linda”. A cada momento que escuto tenho certeza que estou no caminho certo para ela entender o que aconteceu e ter menos traumas.
Por mais que eu a escutei ela falando, tenho consciência que ela fará perguntas que não saberei, outro dia ela me deixou sem reação por alguns segundos: por algum motivo ela estava chorando, eu ali perto tentando ajudá-la e veio “eu quero a minha mamãe”, isso me deixou perdido por um tempinho, me recuperei e conversei com ela, dizendo algo assim: Alícia não tem mãezinha aqui, mas tem o colo do papai; fui acolhendo ela, até que parou de chorar e voltou tudo ao normal(correndo, brincando). Desse momento em diante, muitas vezes ela pede pela mãe e em cada momento vou reforçando as memórias, falo algo novo sobre a Dani, para que a Alícia vá criando seu próprio pensamento.
Para nós adultos muitas vezes é difícil falar de alguns assuntos, muito pelas nossas experiências, com as crianças é muito fácil, pois elas ainda não possuem o peso de algumas palavras, como por exemplo a palavra morte. No caso da Alícia, escuta, pergunta e quando fala da sua mãe é sempre de forma alegre, mesmo falando que ela está longe, no céu.
Em janeiro deste ano, após Alícia ficar 15 dias das férias nos avós/ dindos em Ametista, voltando de carro, eu dirigindo e ela em sua cadeira, a Alícia começou a falar sozinha, sobre cuidando, céu, mãezinha…. Resolvi pedir de quem ela tinha que cuidar, ele me respondeu prontamente do papai, mãezinha pediu para cuidar. Assim eu pedi e quem cuida de você, sem me olhar respondeu o papai e mamãe lá do céu…. Encerrou dizendo que ela estava feliz e que a mamãe Dani também estava feliz e iria continuar nos cuidando...,eu com aquela emoção trancada na garganta só concordei, que a Dani estava feliz pela Alícia ser do jeito que é, que vai continuar nos cuidando e nós e que iríamos nos cuidar também….
Poderia descrever vários outros momentos parecidos, acho que nunca estarei preparado e acostumado a escutar as perguntas, ou ela estar brincando com sua mãe, mas não é mais algo que me deixa perdido por instantes.
Não sei se tem uma maneira certa de abordar estes temas, só sei que da maneira como estou desenvolvendo junto com Alícia está dando certo neste momento, talvez no futuro perceba que não foi a melhor maneira, mas saberei que foi o melhor que consegui pensar e desenvolver com as ferramentas que possuía. Certamente tem muitos outros casos semelhantes ao meu e da Alícia, onde cada um tem uma maneira de aprendizado e de superação.
Para ir desenvolvendo um ambiente leve, tranquilo, feliz para ir tratando deste assunto foi fundamental eu estudar, ler, ampliar o conhecimento e principalmente estar bem emocionalmente, sem eu estar bem é muito mais difícil entender as demanda da Alícia e até mesmo transmitir lembranças, fazer um ambiente legal para a Alícia ir absorvendo, quem não gosta de um ambiente para aprender, trabalhar….
Hoje a Alícia é uma criança muito alegre, feliz, sempre sorrindo e acredito que este ambiente que tento ter em casa ajuda ela ser assim, provavelmente conforme ela for crescendo terá mais questionamentos, talvez raiva, mas isso só o tempo irá dizer. E esse mesmo tempo também é o melhor remédio para nossas dores.
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