A Carga Invisível de Ser Pai Solo
- Dilnei Dalpian
- 24 de abr.
- 3 min de leitura
Outro dia me perguntaram qual é a maior dificuldade em ser pai solo. Não é uma pergunta fácil de responder, porque são muitas as dificuldades.
Acredito que muitas mulheres passam pelo que eu passo — e não necessariamente viúvas — porque existem muitas mães que criam seus filhos sozinhas, sem a presença ativa do pai, que aparece a cada quinze dias e deixa, nesse intervalo, toda a responsabilidade com a mãe.
Desde o momento em que fiquei sozinho cuidando da Alícia, comecei a mudar minha forma de ver o mundo, especialmente a criação de crianças. Às vezes, só passando pela experiência para realmente enxergar. Quando estamos sozinhos, tudo interfere na criação de uma criança — desde a privação de sono quando são pequenas, passando pelas “manhas” na hora do banho ou de dormir. Essas pequenas batalhas diárias se acumulam com outras preocupações e formam uma carga mental imensa.
Percebi também que, na maioria das vezes, a mãe sabe de tudo: o que precisa comprar no mercado, quando renovar as roupas, quais remédios estão acabando... E essa rotina, essa organização, é o dia a dia de um pai ou mãe solo. Tudo é responsabilidade sua.
Voltando à pergunta: tento me programar para a semana. Claro que o fato de a Alícia ficar o dia todo na escolinha ajuda muito. Assim, me preocupo com a rotina da noite: o que vamos jantar, o banho, compromissos que aparecem, pensar em formas de entretenimento — e tentar fugir do celular e da TV.
Mas sempre podem acontecer imprevistos, e aí a rotina vai por água abaixo. E tudo bem, é só reorganizar. Mais informação e mais demanda para a cabeça. Somam-se as tarefas do dia a dia às negociações com a pequena: fazer a janta, chamar para o banho... e ela simplesmente decide que não quer ir.
O que quero dizer é que a cabeça fica cheia de demandas: planejar, executar, adaptar. Um exemplo simples: num certo dia, planejei tomar vacinas e ir ao mercado. Parece pouco, mas já foi tempo pensando em logística, lista de compras, agendamento da vacina. Agora imagina isso todos os dias, por semanas, meses. Vai cansando.
Mas sabe o que faz essa canseira passar? É estar com ela. Quando estamos juntos, parece que o tempo para. Isso recarrega minha energia e renova a vontade de seguir em frente.
Esse texto não é um desabafo de cansaço, mas uma forma de mostrar um lado da vida que muitas vezes não percebemos — ou preferimos ignorar. Por isso, nunca julgue uma mãe ou pai, principalmente os que estão sozinhos. Eles carregam muitas responsabilidades, muitas decisões, muitos pesos invisíveis.
Hoje, já não me sinto tão cansado quanto antes. Houve épocas bem mais difíceis: mais cuidados, mais remédios, fisioterapias, menos horas de sono. Teve uma fase em que ela ficava doente com frequência, e aí vinha o combo: febre, plantão, antibiótico... Mas tudo na vida passa, e hoje a realidade é outra.
Não sei se consegui explicar qual é a maior dificuldade de ser pai solo, porque isso muda conforme a Alícia vai crescendo. Mas uma coisa não muda: a carga mental está sempre presente.
No fim das contas, ser pai solo é sobre aprendizado constante. É viver tentando equilibrar as responsabilidades, as emoções, as incertezas e o amor. Mesmo com o cansaço, com as falhas e os dias difíceis, há sempre um motivo maior para continuar: a presença da minha filha, o vínculo que construímos, o amor que recarrega quando parece que não dá mais. E é por isso que tudo vale a pena. Porque, apesar de tudo, existe uma força que nos move. Então, se você conhece um pai ou uma mãe que está nessa jornada sozinho, ofereça apoio, empatia e escuta. Às vezes, só perguntar "como você está de verdade?" já faz toda a diferença. Porque ninguém deveria carregar tanto, sozinho.
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