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Paternidade Solo: Entre Rotinas, Amor e Silêncios

  • Foto do escritor: Dilnei Dalpian
    Dilnei Dalpian
  • 29 de jul.
  • 2 min de leitura

Logo completa quatro anos que eu e a Alícia estamos vivendo sem a presença da Dani. E vez ou outra, quando a casa silencia, eu paro — olho para trás e deixo a memória fazer seu trabalho. Vêm os primeiros passinhos, a primeira noite do pijama, os choros sem explicação e as gargalhadas que preenchem o ar. Vêm os dias em que tudo parecia pesado demais e os outros, em que bastava um sorriso da Alícia para o mundo inteiro se ajeitar um pouco.

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Nestes quatro anos, ouvi de tudo. Que eu precisava de alguém por perto, que criança sem mãe vive doente, que uma filha precisa da figura materna. Palavras atravessadas, às vezes bem-intencionadas, outras nem tanto. Mas também ouvi coisas bonitas: elogios sobre o cuidado, comentários sobre a felicidade dela, gente dizendo que dá pra ver no olhar dela o quanto é amada e feliz.

E é nisso que escolhi focar. Nas coisas boas que aconteceram — e nas que ainda acontecem todos os dias. Essa escolha, confesso, é o que me mantém inteiro.

Viver a paternidade solo é viver uma rotina onde o tempo parece não pertencer mais a você. Antes, era só sair — ir, voltar, decidir. Depois, tudo gira em torno de uma criança. A liberdade dá lugar às prioridades, e a gente passa a existir no intervalo entre os cuidados com eles. Quando se está em casal, dá para revezar: um joga bola, o outro faz compras. Um sai, o outro fica. Mas quando somos só nós... somos só nós. E o dia se repete.

Ainda bem que tenho uma rede de apoio. Gente querida, que segura a barra quando preciso de uma pausa ou quando a Alícia não cabe no programa. Sem eles, confesso, seria difícil ter uma vida fora da paternidade. Mas mesmo com apoio, há escolhas que a gente simplesmente não faz. Ou nem pensa em fazer.

Com o tempo, fui percebendo que essa prioridade invertida é quase uma marca registrada dos pais e mães solos. Primeiro os filhos, depois tentar estar bem, depois casa, trabalho… e lá no fim, bem no cantinho da lista, a ideia de se relacionar com alguém. E quando sobra tempo, a vontade é uma só: descansar. Respirar. Fazer algo que seja só nosso.

Com o passar dos anos, até as perguntas mudaram. Se antes me diziam que eu precisava de alguém para cuidar da Alícia, hoje me perguntam se eu não penso em ter alguém comigo. E foi nesse processo, silencioso e cheio de camadas, que aprendi o significado de uma palavra que me acompanha até hoje: solitude.

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“A solidão é se sentir sozinho. A solitude é estar só e ainda assim se sentir bem.”

Descobri que é possível gostar da própria companhia. Que estar só não é sinônimo de vazio. Que quando a gente aprende a caminhar consigo mesmo, o peso do mundo fica mais leve. E o que antes parecia falta, vira escolha.

Hoje, entendo que a melhor companhia que posso ter sou eu mesmo. E se um dia alguém chegar, que seja para somar — e não para preencher o que nunca esteve vazio. Porque antes de qualquer coisa, tem uma garotinha que sorri como quem já sabe: a gente se basta.


 
 
 

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